" Adoçantes não calóricos. Massagem com compressas de ervas quentes. Máquinas high-tech para eliminar a celulite. Modelador térmico para criar cachos naturais. Esmalte de tratamento para unhas frágeis. Clareador de manchas com ácido bio-hialurônico. Hidratante bloqueador de radicais livres. E sigo folheando uma adorável revista feminina, que nos conduz a um mundo onde tudo é lindo, glamouroso e caro, mas sonhar não custa nada, e viro mais uma página, e outra, enquanto penso: uma moça chamada Sakineh Mohammadi Ashtiani pode morrer apedrejada a qualquer momento por um suposto adultério cometido anos atrás.
Mulheres se candidatam à presidência, dirigem empresas, pedem o divórcio, viajam sozinhas, investem na sua vaidade, mas nenhuma dessas conquistas pode nos orgulhar enquanto ainda houver o costume de enterrar uma criatura no chão com apenas a cabeça de fora para que leve pedradas de diversos homens – e não podem ser pedras GG, tem que ser as de tamanho M, pois exige-se que o suplício seja longo. Que tom de gloss será conveniente para assistir ao badalado evento?
Sei que há diversas outras modalidades de desrespeito aos direitos humanos, inclusive no Brasil, mas neste momento estou vestindo a camiseta da Sakineh. Quero falar sobre o ato primitivo de se apedrejar uma mulher na cabeça até a morte. Não discuto o motivo torpe da condenação, pois nem que ela tivesse matado alguém, em vez de simplesmente ter feito sexo com alguém, seria justificativa. Não há justificativa para a brutalidade. É a lei do Irã, é a religião do Irã, é a tradição do Irã, e daí? Quando meu estômago embrulha, é sinal de que algo bem perto de mim está acontecendo. Distância só existe quando a gente racionaliza, o sentir unifica. O Irã faz parte do mundo em que eu vivo. O meu tempo e o da Sakineh são o mesmo. Somos contemporâneas. Ela não é um personagem, existe. Tem filhos. E se a mobilização internacional não surtir efeito, em breve será enterrada até a altura do busto, com os braços presos para não poder proteger o rosto.
O que dói, mais do que tudo, é reconhecer que avançamos tanto e ainda não conseguimos atingir um grau de humanidade que seja comum a todos, homens e mulheres de qualquer lugar e de qualquer crença. O que podemos fazer por Sakineh? Rezar para que ela seja enforcada, que é o plano B. Ufa, seria um alívio.
Há uma petição circulando pela internet. Acredito tanto na eficiência desses abaixo-assinados como acredito em creme antirrugas, mas volto a dizer: sonhar não custa nada. www.liberdadeparasakineh.com.br
Eu já assinei. Agora vou passar meu incrível tônico de renovação celular “future solution”, pois, como qualquer mulher, adoro cuidar da minha pele."
Martha Medeiros
Fonte:ZH
segunda-feira, agosto 16, 2010
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21 comentários:
Crônica linda da nossa Martha que faz refletir!um beijo,linda semana,chica
Com todo respeito que você merece querida amiga, merda pra essa lei, para seus legisladores e seus executores. Merda para eles todos!
Bjs.
Se tens a beleza simples e mais nada, tens quase tudo o que DEUS fez de melhor.
(Rudyard Kipling).
Bom dia!
beijooo.
Indgnação!
É o que sinto.
Vi isso tudo e sei o tão absurdo que é para nossos olhos.
Alguém tem que fazer algo!!!
Mari uma semana tranquila pra você.
Xeros
E tudo isso vem com uma receita de religiosidade, no qual eu sou contra. Ainda dizem que homens lá no Irã são os todo poderosos, até quando? Chega de AUTORITÁRISMO ISLÂMICO.
Abraço
Oi, Mariana.
É curioso como o tempo passa (afinal, estamos no século XXi!), enquanto velhos costumes continuem sendo difíceis de erradicar.
Direitos humanos, aqui pelas nossas bandas, são só pra bandidos da pior catadura (enquanto o cidadão comum, que paga seus impostos pra sustentar uma corja de vagabundos, não tem a quem reclamar).
A título de exemplo, sem querer aqui discutir dogmas católicos ou de outras crenças, enquanto a AIDS campeia solta e a superpopulação leva diversos países a uma condição mais que miserável, o Papa condena o uso da camisinha e diz que o único contraceptivo abençoado pela Igreja é a abstençaão... Tenha santa paciência, porque eu, reles mortal, já perdi a minha há muito tempo.
Beijos, dona moça.
Mariana
a sua consciência solidária e cívica deixa-me sempre a forte impressão
de que vale a pena falarmos das coisas e assinarmos petições
mesmo que as rugas se acabem por instalar...
um abraço
Manuela
Não se trata apenas de conquistas ou avanços das mulheres, se trata de humanidade.Não só as mulheres estão indignadas, todos estão. Isso é barbárie, é monstruosidade, é inacreditável.
Bjux
Terrível demais essa situação, quase parece parte de um pesadelo.
beijos
Vai ser um assassinato se este suposta aplicação de leis ocorrer...
Fique com Deus, menina Mariana.
Um abraço.
Eu nem sei o que dizer, já assinei a petição faz uns dias, será que dá pra assinar mais vezes?
Chego a passar mal quando escuto sobre isso, fico torcendo aqui que algo aconteça, que alguém faça alguma coisa ou então algum milagre mesmo.
Beijos
Não entendo o mundo se calar diante dessas leis retrogradas, que humilham as mulheres de maneira cruel...Tenha uma linda semana...Beijocas
Triste demais saber que tanta ignorância existe pelo mundo...é de se embrulhar o estômago com certeza...
Querida, tenha uma boa semana!
Beijos...
Valéria
Tristeza...é só o que encontrei pra escrever...e pensar que estamos no sséculo XXI e um país, u povo, uma cultura ainda permite uma atrocidade como essa.
Bjs
Quer me ajudar a construir um castelo ???... passa lá em casa... to te esperando... bj... **£ú®
Embora eu tenha assinado antes a petição online do Avaaz, também assinei esta.
É uma situação absurda, que precisa da mobilização de todos para ser revertida.
Mariana..."eles não sabem o q fazem"...esta é uma frase q ninguem jamais esquecerá...serve muito bem para aqueles povos daquela região...- jader martins.-
Terminadas as férias, deixo o meu agradecimento por sua visita e generoso comentário.
Louvo seu texto, veementemente solidário para com Sakineh e todas as mulheres sujeitas a discriminação, maus tratos, injustiças de todo o tamanho e, obviamente, assinei a petição.
Beijinho
Seu post nos leva realmente a pensar mais um pouco nessas culturas machistas que ainda existem em nosso mundo. Nosso mundo ainda está longe de ser perfeito e livre dos preconceitos e torturas. Veleu pelo alerta. beijos
Martha sabe muito bem o qu escrever, paz.
Beijo Lisette
Mariana ,
venho agradecer a sua visita e palavras .
Entretanto faço eco com todos que se revoltam contra esta barbárie .
Não esquecendo , porém , que a cada minuto , senão segundo , outras acontecem , portas dentro , e muitas das vezes mesmo ao nosso lado .
Um beijo .
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