terça-feira, novembro 13, 2012

Fazer rir


O deputado federal Francisco Everardo Oliveira Silva (PR-SP) alcançou esta semana o cume do noticiário político ao fazer o inesperado: participou de 100% das sessões legislativas ordinárias deste ano na Câmara dos Deputados. Inesperado porque apenas 18 parlamentares, Silva incluído, tiveram assiduidade total às sessões de votação, conforme levantamento divulgado esta semana. E mais inesperado ainda porque Francisco Everardo é o nome de batismo do palhaço Tiririca, aquele do slogan de campanha "Pior do que está, não fica".
Antes mesmo de ser eleito para a Câmara, em 2010, com 1,3 milhão de votos, Tiririca tornou-se alvo de um dos mais gritantes episódios de bullying político da história. O Ministério Público Eleitoral tentou impugnar sua candidatura por falsidade ideológica _ teria transferido todos os bens para terceiros para escapar de processos trabalhistas, de alimentos e partilhas movidos pela ex-mulher _ e por ser analfabeto. (Num protesto respeitável contra o preconceito e a hipocrisia, a ex-deputada e educadora Esther Pillar Grossi ofereceu-se para alfabetizá-lo antes da posse.) Criou-se a expressão "Efeito Tiririca" para designar celebridades que, sem maior relação com a política, tornam-se puxadores de votos e garantem a eleição de candidatos com votações ínfimas em eleições legislativas.
É impossível fazer rir sem um senso preciso de oportunidade. Conhecedor dessa velha regra do circo, Tiririca guardou alguns números para depois da eleição. Não se limitou a dar quórum a sessões sonolentas. Votou a favor do direito a proventos integrais com paridade para servidores aposentados por invalidez, da regulamentação da carreira de procurador municipal, da efetivação dos atuais donos de cartórios, da expropriação de terras onde houver trabalho escravo e da criação do Sistema Nacional de Cultura. E foi contrário à transferência, da União para o Distrito Federal, da atribuição de manter a Defensoria Pública do Distrito Federal.
Além de ser figura carimbada em plenário, Tiririca deu o ar da graça na comissão da qual faz parte, a de Educação e Cultura. Participou de audiências públicas sobre alvarás para instalação de circos e regulamentação do ensino de música, cultura e cinema. É ativo na Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cultura, condição na qual participou de reuniões nos ministérios da Educação, da Cultura e da Saúde e no Palácio do Planalto. A pedido da UNE, apresentou emenda ao Plano Nacional de Educação prevendo mutirão pela alfabetização de jovens e adultos. Suas emendas ao Orçamento Geral da União deste ano privilegiam programas culturais, esportivos, de saúde e de assistência social, totalizando recursos de cerca de R$ 15 milhões. Um terço desse montante é destinado a hospitais de câncer, santas casas e fundações de assistência infantil.
Em matéria de projetos de lei, a produção de Tiririca foi modesta _ apenas oito em quase dois anos, a maioria sobre questões ligadas à cultura. E, em pelo menos um item da atividade parlamentar, sua performance foi zero: discursos em plenário. Não que o deputado não tenha o que dizer. No único boletim publicado até hoje pelo mandato, ele afirma: "Estando político, é minha obrigação desenvolver projetos e colocar minhas ideias em prática. Sou fruto de uma sociedade que escraviza sem observar os mais humildes, que continuam carentes das ações do Estado. Por isso, o meu compromisso é o de lutar pelo desejo dessa pessoa que não se sente representada como cidadã. Quero muito que a arte popular seja valorizada, que o artista tenha a garantia de que o seu trabalho representa a qualidade do próprio trabalho".
Esse é o deputado Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca. E o seu?
LUIZ ANTÔNIO ARAUJO *Jornalista
Fonte: Zero Hora 11/11/12

segunda-feira, outubro 08, 2012

Eleição Municipal de Gravataí 2012

Resultado das eleições em Gravatai:
Prefeito:            

Marco Alba        PMDB              51.283  votos      54,82 %
Anabel lorenzi      PSB                 40.043  votos      42,80 %
Ailton Goulart       PDT                  1.597 votos        1,71%  
Sadão                  PSTU                  628 votos         0,67%
Daniel Bordignon  PT                    0 votos               0,0%

Eleitores:178.355
Abstenção: 24.449 votos                13,71%
Comparecimento:153.906 votos  86,29%
Válidos: 93.551 votos                      60,78%
Brancos:11,290 votos                        7,34%
Nulos:      49,065 votos                    31.88 % 


Marco Alba (PMDB) foi eleito com 54,82% dos votos válidos. 
Ele interrompe um ciclo de quase 16 anos do PT à frente da prefeitura.

Em uma eleição tumultuada e marcada por ataques entre candidatos, Marco Alba(PMDB) foi eleito o prefeito de Gravataí com 54,82% dos votos válidos. Ele derrotou nas urnas o petista Daniel Bordignon, acabando com um clico de quase 16 anos do PT no comando do município da Região Metropolitana de Porto Alegre. Nesta segunda-feira (8), afirmou ao Jornal do Almoço (veja o vídeo) que espera recuperar a capacidade de investimentos do município. 
“(...) A cidade compreendeu que era necessária a mudança. Conseguimos isso pela estabilidade emocional durante a campanha. Gravataí sempre teve muita polêmica e a política se tornou um desestabilizador da tranquilidade da população. Optamos por uma campanha propositiva, discutimos os problemas da cidade e apresentamos propostas. Conhecemos os problemas e estamos preparados para construir, junto com toda a comunidade, as soluções que a cidade precisa" afirmou.
Gravataí é a quarta economia do Rio Grande do Sul, a quarta melhor receita. Em compensação, investe apenas 1,75% do seu orçamento. Somos a segunda pior gestão fiscal do estado. Temos que fazer um trabalho de recuperação da capacidade de investimento da prefeitura para podermos fazer serviços melhores na educação, na saúde e em tantas outras áreas que a cidade precisa. O desafio é grande, mas queremos unir a cidade, sem mais briga”, acrescentou o peemedebista.
Alba recebeu 51.283 votos. Com a candidatura impugnada pela Lei da Ficha Limpa em duas instâncias, Bordignon aparece com zero voto no resultado da eleição. Todos os votos dados a ele foram considerados nulos até o julgamento da questão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Como o peemedebista obteve 2.218 votos a mais do que o total de nulos, está eleito independentemente do resultado do julgamento no TSE.
Fonte: G1 RS
PS: Votei na Anabel para prefeita e no Dilamar Soares para vereador. Agora minha obrigação é fiscalizar todos os eleitos. 

terça-feira, outubro 02, 2012

Campanha Eleitoral

As campanhas eleitorais têm muitas histórias folclóricas. No entusiasmo dos palanques, alguns candidatos perdem o bom senso, usam frases de efeito, prometem até a lua e, muitas vezes, dizem um monte de besteiras.
Ponta Grossa, PR. Uma longa fila de autoridades desfilava pelo palco. Deputado estadual, candidato a reeleição, pegou o microfone e, com uma voz rouca, gritou: “O povo está cansado de tanto político macarrão!”. Ficou um silêncio, pois ninguém entendeu onde ele queria chegar. Resolveu então explicar a analogia: “Político macarrão! No começo, são duros, cheios de princípios. Depois, quando entram na panelinha, começam a amolecer”.

Tem a história daquele senhor idoso de uma cidade do interior do RS, lançado candidato a senador. Era uma figura querida por todos, e resolveram fazer um evento para promover a candidatura. No dia da festa, recebeu uma lista das pessoas importantes que estavam presentes e resolveu saudá-los, um a um: “Saúdo fulano de tal, meu querido amigo. Obrigado ao beltrano, pela presença ilustre...”. E por aí foi, naquela lenga-lenga quilométrica até chegar ao nome de um tradicional político de outro partido: “Sr fulano, meu querido eleitor...”. Um assessor puxou-o pela manga do casaco e cochichou: “Doutor, esse aí é adversário”. Como já não escutava muito bem, pegou a deixa e arrematou na hora: “E ainda por cima está de aniversário! Eu convido a todos para cantarmos o parabéns a você!”. E puxou o coro.

Famoso político paulista, já meio velho e cansado, não aguentava mais a estressante rotina de viagens de uma campanha eleitoral. Depois de vários dias na estrada, num fim de noite, foi carregado para mais um palanque. Subiu de má vontade e foi direto ao microfone: “Meus queridos amigos de São Carlos...”. O prefeito cochichou no seu ouvido: “Aqui, não é São Carlos, é São Caetano”. Já de saco cheio, o velho resmungou: “Ah! É tudo a mesma merda!”. Só que o microfone estava aberto, e o comentário soou em alto volume pela praça lotada. Conclusão: não levou nenhum voto no município e teve de sair sob escolta policial.

Interior do Ceará. Candidata à vereadora, discursando entusiasmada em praça pública, soltou o chavão: “O voto é um instrumento da democracia, não pode ser vendido”. A plateia veio abaixo com uma salva de palmas. Empolgada com os aplausos, ficou ainda mais inflamada e arrematou: “O voto é que nem sexo. A gente só dá pra quem a gente quer!!!”.

Kledir Ramil
Fonte: Zero Hora 01/10/12

quarta-feira, setembro 19, 2012

Nós

Poucas pessoas gostam de viajar sozinhas. O que é compreensível: a melhor modalidade é a dois, também acho. Mas, na ausência momentânea de parceria, por que desconsiderar uma lua de mel consigo mesmo?

Uma amiga psicanalista me disse que não é por medo que as pessoas não viajam sozinhas, e sim por vergonha. Faz sentido: numa sociedade que condena a solidão como se fosse uma doença, é natural que as pessoas se sintam desconfortáveis ao circularem desacompanhadas, dando a impressão de serem portadoras de algum vírus contagioso. Pena. Tão preocupadas com sua autoimagem, perdem de se conhecer mais profundamente e de se divertir com elas próprias.

Vivi recentemente essa experiência. Tirei 10 dias de férias, e não diga que não reparou, ou morrerei de desgosto. Estive em lugares que já conhecia para não me sentir obrigada a conferir as atrações turísticas _ o “aproveitar” não precisa necessariamente ser dinâmico, podemos aproveitar o sossego também. Minha intenção era apenas flanar, ler, rever amigos que moram longe e observar a vida acontecendo ao redor, sem pressa, sem mapas, sem guias. Dormir até mais tarde e almoçar na hora em que batesse a fome, se batesse. Estar disponível para conversar com estranhos, perceber o entorno de forma mais aguçada, circular de bicicleta por cidades estrangeiras. Ave, bicicleta! Diante do incremento de turistas no mundo, não raro impossibilitando a contemplação de certos pontos, alugar uma bike às 7h30min foi a solução para curtir ruas vazias e silenciosas.

Solitários, somos todos, faz parte da nossa essência. Não é um defeito de fabricação ou prova de nossa inadequação ao mundo, ao contrário: muitas vezes, a solidão confirma nossa dignidade quando não se está a fim de negociar nossos desejos em troca de companhia temporária. E a propósito: quem disse que, sozinho, não se está igualmente comprometido?

Numa praça em Roma, um casal de brasileiros se aproximou. Começamos a conversar. Lá pelas tantas, perguntei de onde eles eram. “De São Paulo, e você?” Respondi: “Nós, de Porto Alegre”. Nós!!! Quanta risada rendeu esse ato falho. Eu e eu. Dupla imbatível, amor eterno, afinidade total.

Se você não se atura, melhor não viajar em sua própria companhia. Mas se está tudo bem entre “vocês”, saiam por aí e descubram como é bom sentar num café num dia de sol, pedir algo para beber enquanto lê um bom livro, subir até terraços para apreciar vistas deslumbrantes, entrar em lojas e ficar lá dentro o tempo que desejar, entrar num museu e sair dali quando bem entender, caminhar sem trajeto definido nem hora pra voltar, pedalar ao longo de um rio ouvindo suas músicas preferidas no iPod, em conexão com seus pensamentos e sentimentos, nada mais.

Vergonha? Senti poucas vezes na vida, quando não me reconheci dentro da própria pele. Mas estando em mim, sob qualquer circunstância, jamais estarei só.
Fonte: Zero Hora

quarta-feira, julho 18, 2012

Tirando os olhos do próprio umbigo

Na mesma semana em que fiquei inconsolável por ter perdido (ou terem me roubado) a carteira com todos os documentos dentro, conheci a história de uma moça que já passou por umas chateaçõezinhas também.

Foi criada numa família machista. Apesar de concluir a faculdade de Direito, o pai a proibia de trabalhar. Teve o primeiro relacionamento só aos 25 anos. Casou, porém o parceiro possuía problemas que tornavam a vida comum um inferno. Ela engravidou e deu à luz um filho que, com um ano de idade, foi diagnosticado com uma doença rara que causava retardo motor – talvez nunca viesse a caminhar. Ela largou tudo para cuidar do filho, e tanto pesquisou que conseguiu descobrir um tratamento que reverteu as piores expectativas – hoje seu filho caminha. Em meio a isso tudo, o então ex-marido passou a viver como mendigo, dormia numa obra. Ela não teve dúvida: o resgatou e o encaminhou a um hospital. Foi quando descobriram que ele havia contraído o vírus HIV, e que havia o risco de ela e o filho terem o vírus também. Depois de muitas noites sem dormir, veio o resultado. Não, mãe e filho não haviam sido contaminados. Mas descobriu-se que o menino, agora com cinco anos, tinha um número enorme de pólipos no intestino, o que exigia exames anuais muito desconfortáveis para uma criança. Nisso, o pai do garoto faleceu. Nada fácil dar a notícia.

Trégua: ela conheceu outro homem, finalmente o amor da sua vida, com quem teve alguns anos felizes. Até que ele morreu de uma hora para outra. Dois meses depois, ainda em luto, ela descobriu que tinha um câncer de mama, e não estava em fase inicial: o tumor media 11 centímetros. Debilitada emocionalmente, nem assim entregou os pontos: iniciou quimioterapia, descobriu nódulos no outro seio, perdeu cabelo, cílios e 15 quilos, fez uma mastectomia radical e hoje é uma mulher, segundo palavras dela mesma, que se considera feliz e vitoriosa, pois teve a oportunidade de se tratar com uma equipe excelente e descobriu com a doença o seu potencial para fazer diferença na vida dos outros: atualmente é voluntária do Imama e estuda legislação do Direito Médico. Conclui ela seu depoimento, fazendo graça: “Nada mais me abala, até medo de barata eu perdi”.

Ninguém tem controle sobre o próprio destino, mas podemos nos precaver, nos informar e nos fortalecer. Hoje é o Dia Nacional da Luta contra o Câncer de Mama. Das 8h30min às 18h, no Teatro do Sesc, médicos especialistas em mastologia, oncologia, radioterapia, reconstrução mamária e oncoplastia irão apresentar as últimas novidades no tratamento da doença. É aberto ao público, entrada franca. Ela deverá estar lá.

Perder algumas batalhas é natural. Perder os documentos, banal. Perder o medo diante de graves desafios e seguir lutando pela vida, crucial.
Marta Medeiros
Zero Hora 18/07/12

domingo, julho 15, 2012

De alma escancarada

A construção das relações pessoais é regida por atitudes e comportamentos muito claros e permanentes, e que determinam se os vínculos vão ser solidificados ou implodidos.
Neste sentido, o sofrimento talvez seja o balizador mais competente e inflexível. Isso porque não há exercício de aproximação entre duas pessoas mais eficiente do que a solidariedade no desespero, nem instrumento de aversão mais áspero do que o descompasso afetivo.

Carl Gustav Jung já recomendava: “aprenda todas a teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”, porque é da sintonia afetiva dessa relação que se estabelecerá uma interação emocional para ser lembrada com carinho ou desprezo”.

A maioria das pessoas tem uma vida tão pobre de emoções que uma doença grave, uma passagem pela terapia intensiva ou uma cirurgia de grande porte têm grande chance de serem rememoradas como um marco emocional na vida daquele indivíduo.

Se isso funciona assim, cuidado, meu doutor, ao se aproximar de alguém que sofre, pois você será catalogado no arquivo emocional daquele paciente conforme sua atitude afetiva. E esta classificação não admite revisões.

Quando um médico apressado diz ao paciente no corredor que ele tem um tumor e que depois passará no quarto para conversar sobre o seu caso, esta relação está definitiva e irreparavelmente rota porque foi negada a solenidade proporcional ao momento crítico da vida emocional daquele pobre paciente.

E que ninguém seja ingênuo de supor que esta ruptura possa ser consertada.

Para alguém fragilizado pela doença e terrificado pela fantasia da morte, não há atropelamento afetivo mais doloroso e inesquecível do que a desconsideração.

No extremo oposto, a recepção solidária e carinhosa de dúvidas e medos, angústias e fantasias, tristezas e esperanças, estabelece o vínculo mais sólido e definitivo que se possa imaginar. E todos estes ingredientes estão ali, comprimidos naquele abraço prolongado depois da primeira consulta.

Esta exposição de afeto é que dá ao médico a rara oportunidade, entre todas as profissões, de conhecer verdadeiramente as pessoas em pouco tempo de convívio, visto que premidas pelo sofrimento e pela ameaça da morte, nunca têm animo nem motivação para aparentarem, e desnudas de disfarce, elas simplesmente são.

Esse intercâmbio afetivo intenso, apesar da fugacidade do encontro, enseja a oportunidade – para que aproveitemos ou não – de nos tornarmos especialistas em gente, essa matéria-prima que se renova a cada novo personagem, com sua história pessoal, às vezes caótica, às vezes pungente, mas sempre rica, única e intransferível.

 J. J. CAMARGO
Zero Hora 14/07/12