
O que deveria ser mais importante para um país: educação ou silicone no peito ou nas nádegas? Aula de inglês ou botox?
Curso de informática ou lipoaspiração? Pós-graduação ou implante de cabelo? Quem fez o acerto de contas com o Leão por estes dias o prazo termina amanhã deve ter constatado, com pesar, que não pode deduzir integralmente os gastos com educação, mesmo com todos os recibos guardados, mas pode abater 100% do investimento em médicos, clínicas e hospitais para fazer cirurgias estéticas.
Pode um país que trata a educação assim chegar ao Primeiro Mundo?
Digamos que você tenha dois dependentes menores de 21 anos e tenha investido em 2009 R$ 27,4 mil em colégio e faculdade. Sabe quanto poderá deduzir da base de cálculo do seu imposto? Exatos R$ 5.417.
Cursos de idiomas não devem nem ser informados à Receita, porque não dão direito a nem um centavo de abatimento da sua renda bruta anual. E, fora a educação, um dependente custa, pelas contas do Leão, R$ 1.730 ao ano.
O assalariado, que é quem realmente paga imposto de renda no Brasil, é duplamente penalizado se quiser oferecer educação com um mínimo de qualidade aos filhos: além de o Estado não oferecer o que seria sua obrigação, não permite abater integralmente do Imposto de Renda o valor investido. Ou pode optar por matricular os filhos em escolas públicas de qualidade duvidosa e usar o dinheiro para eliminar as rugas de preocupação com o futuro e deduzir 100% do gasto com o botox.
Não faltará quem diga que escola particular é um luxo em um país de tantas carências e que o governo está certo em extorquir quem conquistou um salário melhor ao longo da vida. A pergunta é outra: por que se pode abater 100% dos gastos com tratamentos estéticos e não com a escola dos filhos?
Essa não é a única distorção do Imposto de Renda. Se você compra um imóvel por X, é obrigado a declarar esse bem pelo mesmo valor por anos a fio, como se não houvesse inflação. Essa regra prejudica o contribuinte em geral na hora da venda e levanta suspeitas sobre a honestidade dos candidatos a cargos eletivos, porque, ao apresentar a declaração de bens, passam a ideia de estar subfaturando o valor dos imóveis.
Rosane de Oliveira (melhor jornalista do RS)
Fonte:Zero Hora