sábado, novembro 20, 2010

Comigo e Sentigo


Sabemos como foi uma paixão pelo modo como ela termina. Essa frase está no livro O Passado, do argentino Alan Pauls, mas não precisaria estar em livro nenhum para que a avalizássemos. A maneira como se coloca o ponto final nas relações deixa evidente o verdadeiro espírito que norteou o que foi vivido.

Que tipo de final desejamos? De preferência, nenhum. Todo mundo quer um amor para sempre, desde que ele se mantenha estimulante, surpreendente, alegre, à prova de tédio. Ou seja, um amor miraculoso. Como milagre é do departamento das coisas impossíveis, é natural que as relações durem alguns anos ou muitos anos, e depois acabem. Lei da vida. Sofre-se o diabo, mas raros são aqueles homens e mulheres que nunca passaram por isso. O que fazer para amenizar a dor? Talvez ajude se analisarmos o final para entender como foi o durante.

Há os finais chamados civilizados. Ambos os envolvidos percebem o desgaste do relacionamento, conversam sobre isso, tentam mais um pouco, conversam novamente, arrastam a história mais uns meses, veem que nada está melhorando, aguardam passar o Natal e o Ano-Novo, fazem uma última tentativa e então decidem: fim. Lógico que é dilacerante. Não é nada fácil fazer uma mala, dividir os pertences e estipular visitas aos filhos, quando há filhos. A solidão espreita e assusta, e um restinho de dúvida sempre surge na hora do abraço de despedida. Mas foi um “the end” sem derramamento de sangue. Como conseguiram a façanha?

Provavelmente porque sempre escutaram um ao outro, porque não fizeram da relação um campo minado, porque as brigas eram exceções e não regra. É possível também que a relação fosse mais racional do que animal: ternura é bem diferente de paixão. Mas, enfim, mesmo sofrendo com a ruptura, deram a ela um fim digno, condizente com o que de bacana viveram juntos.

Agora vamos ao outro tipo de separação. Tire as crianças da sala.

A relação acaba geralmente depois de um ataque de ofensas, de uns “não aguento mais”, de muita choradeira, de cortes na alma, de desconstrução total, de confissões gritadas: “Quer saber? Eu fiquei com ela sim!”. Garanto que se amam mais do que aquele casal que se separou assepticamente, mas perderam toda a paciência um com o outro, e também todo o respeito, e atingiram um limite difícil de transpor. Por que, depois desse quebra-quebra, não tentam um papo conciliador? Ora, porque não fazem a mínima ideia do que seja isso. Sempre foram atormentados pelo ciúme, pelas implicâncias diárias, pelas oscilações de humor, pela alternância de “te amo” e “te odeio”. Terminam falando mal um do outro para quem quiser ouvir, e não raro aprontam umas vingançazinhas. Tudo muito, muito longe do sublime.

Tive um vizinho de porta que gritava com a namorada ao telefone, sem se importar que o prédio inteiro ouvisse: “Não sei o que fazer! Fico mal contigo e fico mal sentigo!”. Sempre achei essa situação desoladora, e nem estou falando do português do sujeito. É duro ter apenas duas alternativas (ficar ou ir embora), e ambas serem terríveis.

Quando acaba docemente, é sinal de que você foi feliz e nada há para se lamentar. Se acaba de forma azeda, é porque a relação era mesmo uma neura e tampouco se deve lamentar. Nos dois casos, a performance final ao menos ajuda a compreender o que foi vivido e a se preparar para um novo amor que não acabe nunca. Em tese.
Fonte:ZH

28 comentários:

chica disse...

Martha sempre ajuda pra nos faszer pensar com suas crônicas lindas! beijos,tudo de bom,chica e um lindo fds!

Anônimo disse...

Oi Mari, o texto da Martha como sempre vai de encontro à nossa realidade, até nas questões mais dolorosas como a de uma separação.
Bjs e um ótimo final de semana.

Eraldo Paulino disse...

É um lindo texto, realmente. Já havia lido algo sobre isso, mas nada tão profundo e envolvente.
Bjs!

Marilu disse...

Querida amiga, ótimo texto da Martha. Tenha um lindo final de semana. Beijocas

Mauro S disse...

Obrigado Mariana, também gosto muito de aniversário, beijos, Mauro
No Twitter indiquei uma promoção pra você.
Tens notebook?
Beijão!

Misturação - Ana Karla disse...

Mari, assunto um tanto delicado, porém real.
A grande maioria não vão chegar ao fim de seus dias com um único parceiro(a), pois a tolerância de hoje é bem diferente de antigamente, onde as mulheres toleravam muitos absurdos vindo de seus maridos.
Hoje a coisa mudou muito com a independência financeira.
Consigo ou sensigo deve haver renúncias para se ir a frente.
Mas se for pra acabar que seja civilizadamente.
Xeros

Vida disse...

Mariana!
Sabe o que eu penso?
Tudo na vida tem um começo meio e fim...
Beijos!

Joaquim do Carmo disse...

Interessante reflexão a que nos propõe neste texto, amiga! Seria bom demais que um amor jamais terminasse, sem dúvida mas, melhor ainda, que sempre fosse bom enquanto dure e, então, algo de bom persistirá, se terminar!
Beijinho

Unknown disse...

Muito bom texto.

Abraço.

Valquíria Calado disse...

Gostaria de saber como começa... quando vemos estamos dentro... boa semana, com beijos.

Carla Fernanda disse...

bom final de semana Mariana! Amores eternos são muito raros e uma benção para que os vive.
Beijos,
Carla Fernanda

Verena disse...

Viemos agradecer a gentil visitinha ao nosso Blog,Mariana
Que bom que gostou da postagem
Um ótimo domingo
Bjs
Verena e Bichinhos

Toninho disse...

Excelente a reflexão que encerra este texto sobre este assunto, sobre esta realidade que fica nos espreitando por esta vida. Dificil se preparar para viver esta desconstrução, não se imaginar partido,dividido entre o ser e o querer.É mais facil compartilhar nao temos duvidas, mas quando se faz preciso dividir vem toda esta mazela,que envolve muitos relacionamentos.Um abraço de toda paz em dias de luz.

ALUISIO CAVALCANTE JR disse...

Querida amiga

Bonitas e profundas
as palavras deste texto.
Fico a imaginar que nada tem fim.
O que existe é a história,
suas cores, sabores e olhares.
Essas coisas jamais
se apagam de nossas vidas.

Sua amizade é preciosa para mim.

Daniel Savio disse...

Todos os tipos de fins doem...

Principalmente para os filhos que houver.

Fique com Deus, menina Mariana.
Um abraço.

angela disse...

E há aqueles que acabam como um riozinho que se finda em terra humida um nada.
Boa crônica.
Beijos

Luma Rosa disse...

Dizem os antigos que enquanto um casal estiver tirando satisfações, pedindo explicaçoes do porque agiu assim ou assado, ainda existe uma sobrevida, porque pior que o desamor, é a indiferença!
Li no sistema de comentários alguém dizer que tudo tem começo, meio e fim. Porque pensam que possa existir o fim antes mesmo de um começo?
Um estudo americano diz que quando um casamento acaba, devemos dividir em dois o tempo, o resultado é o tempo correto que este casamento foi feliz. Nisto acredito!
O que acaba com um casamento? As mágoas acumuladas. Aconselho os casais a nunca irem dormir brigados. A cabeça no travesseiro vira uma grande fonte de pecados!! Beijus,

Lu S. disse...

Gostei muito texto. Descreve bem situações que vivemos ou vemos por ai, e de uma forma despojada.
beijos.

Nelio Júnior disse...

Realmente, todo mundo quer um amor para sempre...

Eduardo Medeiros disse...

olha, estou para ver uma paixão que acabe docemente...poeticamente...tipo:

"olha, você é linda, maravilhosa, um tesão, mas não dá mais, nossa relação se desgastou, perdeu o encanto e eu já estou apaixonado por outra..."

"ah, querido, claro, ela deve ser bem melhor do que eu, pode ir, seja feliz..."

kkkkkkkk

tirando a brincadeira, o texto da Martha é ótimo.

abraços

ONG ALERTA disse...

Mariana tudo na vida tem seu tempo...tudo cemca e um dia termina...
Beijo Lisette.

Palavra Doce disse...

Olá Mariana, mas que foto mais linda na praia... amei!
Voltei a postar no Palavra Doce depois de um tempinho sumida.
Te espero lá!
Boa semana e que Deus te abençoe sempre mais e mais!
Palavra Doce

orvalho do ceu disse...

OLá, querida Mari
Fiquei pensando no início, meio e fim...
O tempo mais tranquilo é o durante... Aproveitemos!!!
Estou fazendo uma semana de reflexões com textos sobre o silêncio, acompanha,tá?
Saudações com votos de paz e alegria no Domingo.
Bjs

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida

Um texto muito verdadeiro, eu adoro os escritos de Martha, lindo.

beijinhos com carinho
Sonhadora

Fernando disse...

Oi, Mariana.
Mais uma postagem que dá margem a profundas reflexões.
Bom revê-la por aqui, meu bem, já que parece que você perdeu o endereço lá do meu espaço (risos).
Tenha uma ótima semana.
Beijos.
Fui.

Wanderley Elian Lima disse...

Olá Mariana
O término de uma relação, civilizado ou dramático, sempre é triste. As pessoas partem para a relação cheias de esperanças e expectativas, e quando não dá certo é uma grande frustração. Mas contigo ou sentigo, vamos vivendo a vida.
Bjux

She disse...

Realmente acabar uma relação nunca é fácil e acredito que qdo se tem filhos tudo fique ainda mais complicado... Mas... A relação antes, durante e depois, ou até mesmo no seu fim, é uma via de mão dupla, ação e reação, então, às vezes, tentamos terminar tudo civilizadamente, mas nem sempre o outro nos permite seguir por este caminho, infelizmente...
Adorei o post! ;)
Beijo, beijo!
She

Mãe 24hs disse...

Olá amiga! Passei por isso bem recentemente. É realmente muito triste essa ruptura. Vive-se um luto de uma pessoa viva. Mas o tempo é o mestre. Tudo passa e vamos superando o fracasso da relação. Bjos! Adorei o seu blog tbém!