Ao reler esta crônica, o homem de roupão fez me lembrar do político, que só pensa em si, no seu ego e jamais no próximo, e trata o eleitor como uma peça para alcançar os seus objetivos puramente pessoais.
Antes de termos medo do "homem do saco" é melhor tomar cuidado com "o homem de roupão".
Desejo uma semana próspera para todos.
"O Homem é um arraso. Alto, bonito, meio enigmático. Conversa de modo pausado e olhando nos olhos, e que olhos. Não faz cinco minutos que você conheceu a peça e já está pensando na simpatia que vai fazer em casa para que este executivo abençoado e solteiro entre na sua... Mas parece que não vai ser preciso. Escute: ele está convidando você para jantar.
No restaurante, foi educado, divertido e não permitiu que você rachasse a conta com ele. Abriu a porta do carro para você entrar. é agora. Você vai ou não vai conhecer o apartamento do executivo abençoado e solteiro? Voce já está lá.
Tudo muito bonito. Muito bem decorado. mas estranhamente asséptico para um homem que mora sozinho. As plantas estão todas vivas e serelepes. Os vidros, imaculados. Tapetes penteados todos para o mesmo lado. E o quarto? Livros com autores em ordem alfabética. Nenhum sapato em baixo da cama. Nem sinal de ácaros. Você aproveita que ele não está por perto e abre o guarda-roupa. Tudo separado por cores, em degradê. É o Imeldo Marcos dos sapatos, pares em profusão, porém nenhum tênis. Ternos Ermenegildo Zegna e as gravatas guardadas em gavetas etiquetadas com nomes de países: Inglaterra, França, Japão. Você fecha tudo com cuidado e se pergunta: onde esse homem se enfiou?
No banheiro. Tomando um longo banho. Pelo visto, não está com pressa. 45 minutos depois, ele reaparece de roupão branco com o brasão da família bordado. Cuidadosamente penteado. Hidratado. Perfumado. Como você vai fazer sexo com esse cara sem desmanchá-lo?
Na hora do bem-bom, tudo bem mais-ou-menos. Primeiro, um papai-e-mamãe. Depois, papai-e-mamãe. E por último, papai-e-mamãe. Você se sente casada com ele há 46 anos. De repente, uma esperança: ele chama você para a banheira. É agora que vai começar a selvageria. Ele joga você dentro d’água. Alcança três toalhas. E bate a porta, rumo a outro banheiro, pois prefere uma chuveirada.
Quando você volta para o quarto, os lençóis já foram trocados, a janela foi aberta para arejar o ambiente e toca As quatro estações, de Vivaldi. Ele, de dentes escovados, hálito puro, convida você a se retirar. Você sai e ainda dá tempo de vê-lo limpando suas digitais do trinco da porta. Você que já havia enfrentado todo o tipo de depravado, jamais imaginou que um dia seria vítima de um maníaco por si mesmo."
Martha Medeiros
Livro:Non-Stop
segunda-feira, junho 07, 2010
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11 comentários:
Que maravilha de crônica de Martha essa.Nãolembrava dela!beijos,linda semana!chica
Hahahaha, uau!
Que figura esse rapaz, gente!
Bjs.
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Tenho preparado bules de chá a sua espera, porém, não estou percebendo os vestígios de sua presença querida lá "em casa".
Oh!
O texto me fez pensar de imediato naquele psicopata, porque perfeição assim não existe, basta imaginar o "papai-mamãe" sem graça, mas este fato é só o começo da loucura subjacente em vários indíviduos que estão na política.
Bjs
Janeisa
Gostei!
Muito legal essa crônica...pensando bem...acho que estou com muito mais pavor do homem de roupão.
Tenha uma ótima semana amiga!
Beijos
Valéria
As quatro estações de Vivaldi, tudo bem, mas o resto... rsrs. Ótima a crônica! Abraços. Paz e bem.
kkkkkkkkkkkkkkkk, ótimo, ninguém merece um tipo desses.
Bjs
Adoreiii!!!
Mariana!
Fiz um comentário no blog de um blogueiro - parceiro - e acho que caberia bem aqui também. "O homem de roupão" e "O Peixe", de Patativa do Assaré, mostram o mesmo lado de alguns políticos falsos que só pensam em si mesmos.
Beijos!
òtimo texto. O pior é que existem muitos assim.
beijos
Infelizmente nossa realidade...pena.
Acho que todos querem se afastar desse homem do ropão.
Bela crõnica.
Abraço
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