terça-feira, setembro 13, 2011

O amor perdoa tudo

 
"Fotos de amor são ridículas, mas ainda mais ridículo é nunca tirar fotos de amor.
Não há como esnobar certas aparições, manter pose de intelectual e prometer que dessa máquina não beberei.
Existem fotografias obrigatórias na nossa existência, fiascos essenciais que continuaremos reproduzindo até o Juízo Final. Representam estreias, nascimento, inaugurações, onde é impossível rejeitar o clique. Guarde a reclamação e a timidez no estojo, ficará condicionado a tolerar o xis, olhar o passarinho, arrumar um lugar na barreira e aceitar as ordens de incentivo do fotógrafo.
São imagens que partilham o mistério da música brega: ninguém conhece, todos sabem a letra.
Referem-se às cenas fundamentais do ciclo da vida, espécie de cartões-postais familiares. Sem eles, a sensação é de que não nascemos, de que não tivemos família, de que não pertencemos à normalidade fotogênica do mundo.
É o mesmo que visitar o Egito e não posar na frente das pirâmides, visitar Paris e não ostentar a Torre Eiffel ao fundo do plano, passar pela China e desdenhar as curvas da Muralha.
De que flagrantes estou falando?
Daqueles que não podemos fugir, senão demonstraremos indiferença, frieza, falta de emoção.
Daqueles que debochamos ao encontrar na gaveta dos outros e que ocupam a maior parte de nossos porta-retratos.
Um deles é a troca de cálices no casamento. Quando o noivo e a noiva embaralham os braços. Apesar do desconforto tentacular, o casal tem que sorrir. Qual o menos pior: este brinde de espumante ou o corte a dois do bolo do casamento? Trata-se de uma disputadíssima concorrência para abrir o álbum.
Lembro também do clássico beijo do pai na barriga da gestante. A grávida sempre está nua, o que é involuntariamente engraçado. O homem surge agachado com roupa social diante de sua companheira pelada. Se não fosse a criança por vir, estaria na parede de uma borracharia.
Não dá para esquecer a grande angular do baile de debutantes: as adolescentes como time de futebol, posicionadas em diferentes degraus. E a nossa foto tomando o primeiro banho, usada pela mãe para nos envergonhar na adolescência. E sem os dentes da frente, e lambuzado de chocolate, e sendo lambido pelo cachorro.
Fotos ridículas e inesquecíveis, adequadas para chantagem e suborno, mas que se tornam – por vias tortas – recompensas do amor.
São justamente as fotos que vamos procurar para sentir saudade. E, ao lado dos filhos, rir e chorar ao mesmo tempo"
 Fonte:Zero Hora 13/09/11
PS: Admiro os textos do Fabrício, mas discordo dele, o amor não perdoa tudo.  Há sentimentos capazes de matar o amor, isto que "ele" é para mim o maior e mais sublime sentimento do coração.

13 comentários:

Terê. disse...

quem não tem uma bela fotinha de mãos dadas, belo artigo, amei, bju tere.

Suziley disse...

Oi, Mariana:
Fotografia é a arte de eternizar o presente. Também gosto dos textos do Fabrício. Uma ótima semana para vc, beijos :)

Caca disse...

Mariana, no início da era digital eu fiquei até meio revoltado achando que ia acabar a foto de papel. Pra muita gente acabou mesmo, guardam apenas no computador, mas eu continuo fazendo questão de revelar e colocar em álbuns e porta retratos. É história viva nos acompanhando,adoro fotografias (mesmo sendo um péssimo fotógrafo) Abraços. Paz e bem.

Wanderley Elian Lima disse...

Visualizei todas as cenas. Sou brega assumido, adoro fotografar e não desgrudo de minha máquina. Intelectuais fazem as mesmas coisas, só que escondido.
Bjux

Socorro Melo disse...

Oi, Mariana!

Que bacana esse texto! Eu não sou fotogênica, normalmente fico péssima nas fotos, mas adoro ser fotografada em momentos especiais, e principalmente junto aos amigos e familiares.
Nossa, tenho vários álbuns, e todas que foram citadas aí, eu tenho, kkkk
Muito bom, Mariana!
Mas, amiga, o amor verdadeiro, creio eu, perdoa tudo, apenas não esquece as ofensas, as marcas ficam, pois não há como apagá-las da memória, mas, perdoa sim.

Grande beijo
Socorro Melo

Pelos caminhos da vida. disse...

Fotos são nossas lembranças eternas...

beijooo.

Pensador disse...

Um belo texto, sem dúvida, Mariana!
Mas sou obrigado a observar que, se o amor não pode perdoar a tudo, ao menos deveria...
Beijos!

Mari disse...

Oi Mariana,

Lendo o texto e revendo na minha memória..cenas iguais que também vivi!
Perfeito texto!
Beijos

Anônimo disse...

Não acho tbm que o amor seja imortal, mas ele com certeza é resiliente, quanto intenso. Aquele amor realmente marcante é inesquecível, inexpurgável de nós, e por isso mesmo incômodo.

Mas concordo com o autor, na idiotice de não se deixar vivê-lo, por teimosia.

Toninho disse...

Reviver todas emoções numa foto, é uma alegria que não se pode furtar.Amareladas pelo tempo para dizer,que voce viveu tudo aquilo, todo tempo.
Bom voltar Mariana nos seus textos de belas reflexões.
Meu terno abraço.

Celina disse...

Mariana bom dia, estou hoje comentando este post, ja que comentei o primeiro. agradicer a vc pela visita e o comentário. Fotografia é um assunto que interessa a todos. aquí em casa quando nos reunimos para ver fotos ou filmagem de alcum acontecimento. vem as reclamações, ah como estou gorda oha as bochechas estão enorme olha que cabelos mais feio, quanto mais antigas as fotos, mais reclamacões. mais cada um tem um pouco de masoquisno não se furtão nunca a uma boa reunião de fotos em familia rsrs. Um abraço querida. Celina

Celina disse...

Querida peço desculpas por alguma letras trocadas no texto anterior, estou ainda em tratamento visual as vezes letras saem trocadas. abraços celina.

vieira calado disse...

Vim por-me ao corrente dos últimos posts.

Deixo

saudações poéticas.