Longe da democracia

Texto do jornalista Luciano Peres no ZH de 22/08/08

Se alguém tinha a esperança de que os Jogos Olímpicos de Pequim significariam o início ainda que tímido de uma democratização da China, melhor aguardar sentado, e em uma poltrona bem confortável.
A Olimpíada se encerra neste domingo, e nem mesmo o esboço de abertura representado pelas chamadas zonas de protesto três parques da capital nos quais cidadãos chineses poderiam realizar manifestações, mediante a devida autorização saiu do papel.
Até agora, nenhum dos 77 protestos solicitados foi permitido. Não há por que acreditar em uma mudança de política até domingo.
Quem confiou nas promessas do governo se deu mal. Ontem, as agências internacionais de notícias informaram que duas amigas septuagenárias, Wu Dianyuan e Wang Xiuying, foram colocadas sob prisão domiciliar depois de terem apresentado cinco pedidos consecutivos para se manifestar em um dos parques. Pior: elas foram condenadas a um ano de trabalhos forçados nos “campos de reeducação” chineses – uma decisão que lembra os piores tempos da Revolução Cultural. Xiuying, 77 anos – quase cega e paralítica –, e Dianyuan, 79 anos, queriam uma indenização justa pela perda de suas residências em 2001, derrubadas pelo governo como parte da remodelação de Pequim antes da Olimpíada.
Devido à idade, as duas senhoras chinesas provavelmente não irão para os campos de reeducação – a pena deve ser substituída por prisão domiciliar. O que não torna, claro, menos grave o caso. Definitivamente, 2008 não será o ano da democracia na China.